Vidro Azul ("Blue Glass")


Vidro Azul ("Blue Glass"): its broadcastings began in RUC-Radio University of Coimbra, later extending to Radio Radar, and now on Radio SBSR. In its two-hour duration, this author’s project explores melancholic sonorities also experimenting, boundarylessly, with beautiful ethereal landscapes. Through several genres ranging from folk, glitch, indietronica, neoclassical, ambient, jazz, indie pop, minimal among others, themes are blended in an intentional attempt to create a coherent harmony.


sexta-feira, dezembro 21

Dizer do coração aquilo que respira como meio-tom suspenso entre passos de um caminho que uma música faz. Arruma-se o cabelo no vento, inundam-se as redondas cabeças dos maravilhosos nuns carapuços felpudos que eles estranham, a tua mão que se me agarra os dedos daquela maneira que nos ensinámos, os sorrisos soltos para quem passa e tanto orgulho abarrotado no peito que devia derramar oceanos.
Hoje não vai chover; aqui ao lado remenda-se uma parede de branco num vestido imaculado a cobrir uns abstractos adolescentes feitos entre beijos e muita pressa - os pintores são também alpinistas de pé num guindaste que se estende de um pequeno carro de rodas grossas. A vista, mesmo com o branco-cal-de-sul, continua feia e afugenta e tapa o nariz para que os pulmões se queixem – respiro por uma palhinha.
Dizer do coração é lembrar-vos e dispensar a geografia. Não me falta amor, música que se liquidifica pelos rios do meu corpo, amigos a milhas tão aqui, olhos grandes e muito parecidos, dois nomes próprios e uma alcunha que vem de pequena, pestanas que erguem sombras, mãos que exploram, palavras que se tentam sem risco de agradar, dois pares de pequenos dentes que fazem com que os nossos se escancarem, uma mulher ingente e dela a competência para os anjos e que os anjos têm para nos guardar.
Somos quatro: o número mais bonito que enleio numa felicidade em câmara lenta que se me pendura a crescer e trepar até à competência de a saber viver de letra.

1 comentário:

ana salomé disse...

ricardo, este texto dói de tão belo e verdadeiro. poça... *

'dizer do coração é (...) dispensar a geografia'. é TÃO isto.


um abraço*

(a 59 é perfeita.. sim)