A doença espantou-lhe o sorriso e arrumou o sangue ao contrário. Queria desaparecer da vergonha do seu espírito intratável de exemplar comunitário. Às vezes, longe, admirava-se da sua desarmonia roedora, mas, de dor nas pernas, pesado de insónia, sabia que duraria muito assim e a vida, gordurosa de calor e maçada por palavras piscas e quadradas, persistiria teimosamente.
Já ninguém o atura e, para cruel acrescento, perdeu o gosto de se sentar à mesa a morrer por uma trinca de leitão, chouriço, queijo pestilento, presunto e todas as delícias que o estômago destrata. O que lhe resta? Cego de ver anda ele e se ensurdece é que a coisa muda mesmo de lugar. A criatura vai de música e sem isso arranca para dormir nos calcanhares das flores que lá o som alenta sempre.
Nesta terra a coluna arqueia com o tempo e por que ninguém ri. Passeiam-se rugas, bigodes mal crescidos, camisas arqueológicas, calças salmão, fumo de sardinha e carradas de um orgulho imperial irritantemente genuíno. Nada a fazer, portanto.

manuel m.