Vidro Azul ("Blue Glass")


Vidro Azul ("Blue Glass"): its broadcastings began in RUC-Radio University of Coimbra, later extending to Radio Radar, and now on Radio SBSR. In its two-hour duration, this author’s project explores melancholic sonorities also experimenting, boundarylessly, with beautiful ethereal landscapes. Through several genres ranging from folk, glitch, indietronica, neoclassical, ambient, jazz, indie pop, minimal among others, themes are blended in an intentional attempt to create a coherent harmony.


quinta-feira, junho 30

Jardim

Não há pedras preciosas, não há cofres,
nem tesouros enterrados para brincar aos piratas.
Ninguém conversa entre si - mudos, dirás, ou desinteressados.
Os elementos presentes têm certas cores,
uma ou outra forma, cheiro, e nada mais.
Nenhum valoriza essa extraordinária invenção do alfabeto,
nem a última novidade da engenharia.
Por estes lados a palavra cimento é
uma indelicadeza.
Não falam, isso é certo, mas talvez ouçam.
Recebem, sim: água e palavrinhas que fazem crescer
(as menos inúteis do dicionário.)
E darão algo, certamente, que o mundo foi feito assim:
de trocas inumeráveis,
mas o que dão não se sabe, apenas se sente: dão beleza.
Flores, sim, pequenas ervas circunscritas ao seu sítio
- o da maldade inconsequente -
arbustos indecisos entre crescerem mais
ou ficarem ali a olhar de perto
formigas e outras espécies pacíficas.
E depois: quatro árvores altas. Eis o jardim.
Porém, a autoridade deste não vem das árvores,
mas sim de pequenos pormenores.
Por exemplo: o homem de negócios dá a volta
para não pisar uma flor minúscula.
Chegará atrasado à reunião?

Gonçalo M. Tavares

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